domingo, 30 de setembro de 2018

"brecha", de Maria Elizabeth Candio





Ainda que a cabeça negue
e a boca oprima,
há algo que persegue e segue
e sangra e pede rima.

É como a brecha
na entreaberta porta.
É um jeito de quem chora
e não suporta.

Ainda que o orgulho esconda
e a alma resista,
há algo que rompe e que ronda
e sonda e força e fere a vista.

É como a brecha
numa rua estreita.
É o grito de quem sabe
e não aceita.

Ainda que a lembrança esqueça
e o peito agrida,
há algo que vence a cabeça
e vem, convence e encabeça a vida.

É como a brecha
em sombra e claridade.
É a luta de quem busca
a outra metade.