segunda-feira, 1 de outubro de 2018

"o tesouro", de Shauara David




Fazer nada é também um fazer
basta-me a própria companhia
para captar o sentido da vida;

pode estar numa abelha
na flor que brotou na parede
ou na réstia de luz solar
transpassando o alpendre

mas os olhares acostumados cegam
a magia apresenta-lhes indiferente
e a melhor parte do encontro
não reluz para o descrente

meu mestre é o meu observar;
um rio ensina tanto mais
que qualquer ciência antiga
já que a natureza é inexplicável

nada possuo senão experiência
e no entanto, permaneço aprendiz

não me engano, porque não julgo
não me desiludo, já que não procuro

nada mantenho senão o equilíbrio
o caminho é o do meio
e só não me abstenho
de investigar o horizonte

não temo a morte, nem temo a vida

(a vida é grandiosa e ainda assim
pequenina diante o mistério da morte)

nenhuma doutrina pode ser doada
em beneficio do outro
cada um precisa cruzar estrada
e montar a própria benção, o seu tesouro.