quinta-feira, 9 de agosto de 2018
"chuva", de Lisley Nogueira
chuva
que cai
e me rasga a alma
como ácido
exigindo de mim a pele
lavando as minhas verdades
enquanto nasço planta nova
desse solo árido
chuva
que me desnuda o silêncio
confunde os caminhos
molhando meus pés e passos
diante da lama que só eu vejo
chuva
forte, que decide o que será do meu destino
a dança ou a quietude
cai gota a gota
enquanto penso sobre as pendências em mim
chuva
que fere o aço
as culpas e os estilhaços
nutre como enxurrada as minhas esperanças
desperta os sons da minha essência
do banjo ao baixo
dos suspiros aos gritos
chuva
que me leva a sombra
e desbrava as fronteiras
de medos que não tenho mais
nem mesmo do excesso
que inunda meu cais
nem mesmo da correnteza
a me acorrentar
ou da tempestade
que demora a passar
chuva
que me serve muito
serve até para me provar
que sou dela
sou filha da água que corre
que compõe minhas veias
e dilui meus pecados
chuva
em temporais insanos
que existem apenas
para me moldar